Ícaro Schultze

A ignorante passionalidade do futebol

Bonjour! Comment ça va? A existência precede a essência. O indivíduo não nasce com um propósito, mas é livre para construir sua própria identidade através de suas escolhas. É livre para escolher o seu sentido, é um direito seu, mas esta liberdade também implica na responsabilidade pelo que faz. Somos livres para amar, mas também para o mal, para batalharmos, arduamente, contra nós mesmos. Somos livres, mas em toda parte, encontramo-nos presos neste complexo mundo social, onde não vivemos sozinhos. A liberdade individual não pode ser exercida de maneira arbitraria ou sem limites, de forma a garantir a harmonia e a convivência pacífica entre os membros da sociedade.

Temos uma capacidade inata de agirmos com maldade, por prazer ou vontade própria, e não por necessidade ou instinto. Somos ignorantemente perigosos. A ignorância, o conhecimento superficial e a falta de conexão com a realidade, reduzem a culpabilidade de nossos atos e gera mais confiança do que o próprio profundo conhecimento. Aqueles que possuem conhecimento e experiência são mais propensos a serem cautelosos. A ignorância, em alguns casos, pode ser uma virtude, mas normalmente é uma grande fraqueza e fragilidade social. O bicho homem precisa de limites.

Este que vos escreve, assim como Descartes, passou a duvidar de tudo na semana que passou. Duvidar dos valores esportivos, do real propósito do esporte, da função de um pai e do exemplo que damos as crianças. A imagem de um pai invadindo um evento esportivo para agredir um profissional, adversário de seu time, com a filha de três anos usada como escudo, me abalou, me feriu. Foi, com toda a certeza, uma das imagens mais tristes que já presenciei no esporte e na vida. O futebol é um fenômeno que desperta a irracionalidade passional, nossos valores são todos sobrepujados.

Valorizamos a ofensa e o desprezo com os adversários, árbitros e com o nosso próprio time e torcida. O futebol, seus dirigentes, profissionais e seus representantes legais são passionais. Os processos legais, a gestão e governança, as “quatro linhas”, estão todos com vieses passionais, o que torna o esporte um fenômeno totalmente sem controle de suas massas. A crueldade é uma das paixões mais ativas e enérgicas do coração humano e é um dos gatilhos negativos da passionalidade. Ao ver aquela cena lamentável, duvidei até de nossa existência, porém eu “penso, logo existo”, e duvidar é importante para encontrarmos uma verdade indubitável para construirmos um conhecimento seguro e universal.

A educação sempre é o caminho para o conhecimento, porém, educação superficial e rasa é estrada para ignorância. Aprendemos no exemplo e a escola que nos educa para sermos bichos irracionais é própria sociedade, já com valores deturpados. A educação verdadeira e significativa é a que conecta as pessoas com a realidade e as capacita a fazer escolhas conscientes e justas.

Devemos respeitar a nossa natureza, permitir que todos sejam livres e autônomos, estimular valores éticos e morais e impor limites. O Futebol precisa de limites, precisa de leis e punições rigorosas que extrapolem o âmbito esportivo. Que tenhamos justiça severa. O esporte precisa educar, precisa dar exemplo.

Russeau, Voltaire, Descartes, Sartre, Sola, Michel de Montaigne e a literatura francesa, país sede dos próximos Jeux Olympiques, inspiraram este escritor para que refletíssemos sobre o fenômeno esporte e a sua passionalidade, de uma maneira mais filosófica. A certeza que fico é que a bondade precisa ser natural, mas a justiça é uma conquista. Lutemos racionalmente por ela. Au Revoir.

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